Israel acusa Hamas de querer fazer mudanças ‘inaceitáveis’ em acordo de cessar-fogo; delegações negociam termos no Catar
Declaração ocorre após governo israelense ter aceitado a proposta e o Hamas ter dado ‘resposta positiva’ ao texto, desenhado pelo Catar, na semana passada. Trump recebe premiê Netanyahu na Casa Branca na segunda-feira. Palestinos buscam suprimentos em Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza, em 22 de junho de 2025.
Mahmoud Issa/Reuters
Israel afirmou que o grupo terrorista Hamas quer fazer mudanças “inaceitáveis” no acordo de cessar-fogo que está sendo mediado pelo Catar. A declaração ocorre após o governo israelense ter aceitado a proposta e o Hamas ter dado “resposta positiva” ao texto, ambos na semana passada.
“As mudanças que o Hamas está tentando fazer na proposta do Catar nos foram transmitidas na noite passada e são inaceitáveis para Israel. Diante da avaliação da situação, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu determinou que o convite para as conversas indiretas seja aceito e que os contatos para a devolução de nossos reféns –com base na proposta do Catar à qual Israel já concordou– sejam mantidos”, afirmou o gabinete de Netanyahu em comunicado.
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As delegações realizam neste domingo (6) novas negociações dos termos da trégua em Doha. Essa rodada de negociações entre Israel e Hamas será indireta, e busca um acordo de trégua na guerra na Faixa de Gaza, que já dura 21 meses, com a libertação dos reféns israelenses restantes sob poder do grupo terrorista.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, receberá o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na Casa Branca na segunda-feira. Os EUA também atuam como mediador nas conversas pelo fim do conflito, que é do interesse de Trump.
“Os mediadores informaram ao Hamas que hoje, domingo, começará em Doha uma nova rodada de negociações indiretas entre o Hamas e Israel”, disse à agência de notícias AFP uma fonte palestina próxima às tratativas. Segundo a fonte, a delegação do Hamas, liderada por Khalil al Hayya, já está na capital do Catar, Doha. A deleção israelense foi enviada na manhã deste domingo, no horário de Brasília.
No território palestino, devastado por quase 21 meses de guerra, a Defesa Civil de Gaza anunciou que 14 pessoas morreram em bombardeios israelenses.
A guerra entre Israel e Hamas começou após o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023, em que membros do grupo palestino invadiram o sul de Israel e mataram mais de 1.200 pessoas, além de levar cerca de 250 reféns para Gaza.
Desde o início da guerra em Gaza, mais de 56 mil palestinos foram mortos, a maioria mulheres e crianças, além de mais de 100 mil feridos, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas. Um levantamento independente da ONU apresenta contagem similar de vítimas do conflito. Uma grave crise humanitária também surgiu no território palestino em decorrência do conflito e da restrição de entrada de ajuda humanitária de ONGs especializadas, como a ONU.
Trump diz que Israel aceitou cessar-fogo de 60 dias em Gaza
60 dias
Segundo fontes palestinas, a proposta apresentada ao Hamas inclui uma trégua de 60 dias, período em que o grupo libertaria 10 reféns israelenses ainda vivos e devolveria vários corpos, em troca da libertação de prisioneiros palestinos detidos em Israel.
Das 251 pessoas sequestradas em 7 de outubro de 2023 durante o ataque do Hamas em Israel, 49 permanecem em cativeiro em Gaza, 27 delas declaradas mortas pelo Exército.
As fontes afirmaram que o Hamas exige mudanças na proposta, incluindo uma melhoria no mecanismo de retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza, garantias de que os combates não serão retomados durante as negociações e que a ONU e organizações internacionais reconhecidas voltem a distribuir ajuda humanitária.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que receberá Netanyahu na segunda-feira em Washington, disse que um acordo poderia ser alcançado “na próxima semana”.
Neste domingo, antes de viajar para os Estados Unidos, Netanyahu se reuniu com o presidente israelense, Isaac Herzog, que destacou que “o primeiro-ministro tem uma missão importante: avançar em um acordo para trazer todos os reféns para casa”.
No sábado, durante uma manifestação em Tel Aviv, o Fórum das Famílias dos Reféns pediu às autoridades israelenses que alcancem um “acordo global” que permita a libertação de todos os sequestrados de uma só vez.
Nas duas tréguas declaradas até o momento durante o conflito, a primeira de uma semana em novembro de 2023 e a outra de dois meses no início de 2025, vários reféns foram libertados e milhares de palestinos foram liberados das prisões em Israel.
Ataques
Na Faixa de Gaza, onde dois milhões de habitantes vivem em condições terríveis, segundo a ONU e várias ONGs, 14 palestinos morreram em bombardeios israelenses neste domingo, informou Mahmud Bassal, porta-voz da Defesa Civil do território.
Um ataque atingiu uma casa no bairro de Sheikh Radwan, na Cidade de Gaza, ao norte do enclave. Os vizinhos tiveram que retirar os corpos das vítimas dos escombros, segundo correspondentes da AFP.
O hospital Al Shifa recebeu pelo menos 10 corpos, que permaneceram no chão, cobertos por mortalhas de plástico. Ao lado deles, vários parentes recitavam orações fúnebres, sem conter as lágrimas.
“Fiquei sabendo que a casa do meu irmão foi atingida”, contou Yahya Abu Sufian. “Cheguei aqui e encontrei vários mortos”, acrescentou.
Procurado pela AFP, o Exército israelense afirmou que não teria condições de comentar nenhum ataque sem as coordenadas geográficas precisas.
As restrições à imprensa em Gaza e as dificuldades de acesso a vários pontos impedem que a AFP consiga verificar de maneira independente as afirmações das partes envolvidas no conflito.
O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 matou 1.219 pessoas em Israel, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Mais de 57.400 palestinos morreram na ofensiva israelense em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas, números que a ONU considera confiáveis.