Sem base legal, presidente americano joga com a carta da desnaturalização como arma política para intimidar adversários políticos. Trump fala a jornalistas antes de embarcar para o Texas
REUTERS/Jonathan Ernst
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, parece buscar no ditador Daniel Ortega, da Nicarágua, a inspiração para considerar a revogação da cidadania de seus inimigos políticos, como fez com a atriz e comediante Rosie O’Donnell. Declarar cidadãos apátridas tornou-se rotina no país centro-americano, onde centenas de opositores e desafetos do ex-guerrilheiro sandinista, que está no cargo desde 2007, perderam a nacionalidade.
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“Como Rosie O’Donnell não atende aos melhores interesses do nosso Grande País, estou considerando seriamente a possibilidade de retirar sua cidadania. Ela é uma ameaça à humanidade e deveria permanecer no maravilhoso país da Irlanda”, postou o presidente em sua rede Truth Social.
Diferentemente de Ortega, que recentemente ampliou seus poderes com uma reforma constitucional, Trump está amarrado pela 14ª Emenda da Constituição, que impede a cassação da cidadania de americanos nascidos no país. A Suprema Corte emitiu uma decisão, em 1967, considerando a desnaturalização inconstitucional e inconsistente com a democracia americana.
Filha de pai irlandês e mãe americana, O’Donnell se exilou na Irlanda assim que o presidente americano tomou posse, em janeiro. A rixa entre os dois é antiga. Quando apresentava o talk show “The View”, ela não poupava críticas a Trump e, por isso, virou alvo de insultos e ofensas do magnata.
A atriz reagiu rapidamente à sua ameaça de perder a cidadania americana e incentivou-o a ir adiante, em tom jocoso. “Vá em frente, rei Joffrey com um bronzeado artificial cor de tangerina”, escreveu ela referindo-se ao rei vilão, personagem da série “Game of Thrones”.
“O presidente dos EUA sempre odiou o fato de eu vê-lo como ele é: um vigarista, criminoso, abusador sexual, mentiroso, decidido a prejudicar nossa nação para servir a si mesmo”, acrescentou O’Donnell.
Numa reprise semelhante ao modelo autoritário de Ortega, o presidente americano vem usando a carta da revogação da cidadania como arma política para intimidar adversários.
Cogitou fazer isso com o bilionário Elon Musk, nascido na África do Sul e naturalizado americano. Trump atacou da mesma forma o candidato democrata à prefeitura de Nova York, Zohan Mamdani, também naturalizado desde os 7 anos, a quem ele referiu-se falsamente como imigrante ilegal.
Assim como as outras, esta ameaça do presidente a Rosie O’Donnell não tem base legal, mas ecoa para desviar as críticas recebidas pelo tarifaço e pelo impacto dos cortes de funcionários de agências federais nas enchentes do Texas.

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