Crise econômica em Cuba aumentou a vulnerabilidade social e agravou a escassez de alimentos, medicamentos e combustíveis.
Reuters via DW
A ministra do Trabalho de Cuba renunciou ao cargo na terça-feira (15) após ter afirmado que não há moradores de rua no país, apenas pessoas “disfarçadas de mendigos”. Marta Elena Feitó Cabrera se tornou alvo de críticas e pedidos de renúncia por conta da fala.
O gabinete do Presidência de Cuba afirmou em publicação na rede social X que a Ministra do Trabalho e Previdência Social “reconheceu seus erros e apresentou sua renúncia”.
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Feitó fez os comentários na última segunda-feira perante deputados de uma comissão da Assembleia Nacional. Sua fala viralizou e gerou uma enxurrada de críticas em um país que atravessa uma grave crise econômica. (Leia mais abaixo)
“Vimos pessoas, aparentemente mendigos, [mas] quando você olha para as mãos delas, olha para as roupas que essas pessoas estão vestindo, elas estão disfarçadas de mendigos, elas não são mendigos”, disse Feitó na Assembleia Nacional. “Em Cuba não há mendigos.”
Ela acrescentou que as pessoas que pedem esmolas ao limpar para-brisas de carros nas ruas usam o dinheiro para “beber álcool”. Feitó também criticou os que vasculham os lixões, dizendo que estão recuperando materiais “para revender e não pagar impostos”.
Críticas generalizadas
Usuários de redes sociais reagiram com indignação, postando fotos de pessoas comendo em latas de lixo. O economista Pedro Monreal ironizou a ministra em um comentário no X, dizendo que há “pessoas disfarçadas de ‘ministros'” em Cuba.
Feitó também recebeu críticas públicas do presidente cubano, Miguel Díaz-Canel. Sem a mencionar nominalmente, ele escreveu em seu perfil no X que “a falta de sensibilidade em lidar com a vulnerabilidade é altamente questionável. A revolução não pode deixar ninguém para trás; esse é o nosso lema, nossa responsabilidade militante.”
Mais tarde, em uma sessão parlamentar, Díaz-Canel afirmou que “nenhum de nós pode agir com arrogância, agir com fingimento, desconectado das realidades em que vivemos”. Os indigentes são “expressões concretas das desigualdades sociais e dos problemas” que Cuba enfrenta, acrescentou o presidente.
Pessoas vendendo itens em rua de Havana, em Cuba, em 15 de julho de 2025.
REUTERS/Norlys Perez
Pior crise em três décadas
A pior crise econômica em três décadas no país aumentou a vulnerabilidade social e agravou a escassez de alimentos, medicamentos e combustíveis, além de apagões diários no fornecimento de energia.
Analistas atribuem esse quadro a uma combinação de fatores como as sanções americanas e má gestão interna da Economia pelo regime.
Cenas de pobreza extrema se tornaram comuns, especialmente na capital Havana, onde a população enfrenta uma inflação galopante, salários baixos e escassez de alimentos, levando alguns a recorrer à mendicância ou a procurar comida no lixo.
Apesar da pobreza, até alguns anos não havia sinais de mendicância ou falta de moradia na ilha, graças aos benefícios do Estado que agora foram bastante reduzidos. No ano passado, o governo afirmou que havia 189 mil famílias e 350 mil indivíduos, de uma população de 9,7 milhões, vivendo em condições “vulneráveis” e se beneficiando de programas de assistência social. A situação também tem alimentado um êxodo migratório de habitantes da ilha, que passa por uma drástica redução de sua população.
Na segunda-feira, as autoridades cubanas informaram que o Produto Interno Bruto do país caiu 1,1% em 2024, em comparação com 1,9% no ano anterior, acumulando uma queda de 11% nos últimos cinco anos. O salário médio mensal é inferior a US$ 20 (cerca de R$ 111) na taxa de câmbio não oficial.

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