Lula pede ‘governança multilateral’ sobre IA para evitar imposição de grandes empresas de tecnologia
Em encontro com empresários do Brics, presidente disse que ‘riscos’ apontam para necessidade de regras compartilhadas sobre a tecnologia. Petista também defendeu união de países por multilateralismo. O presidente Lula (PT) em discurso no Fórum Empresarial do Brics, no Rio de Janeiro
Reprodução/Canal Gov
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu neste sábado (5) a criação de uma “governança multilateral” para regras sobre inteligência artificial.
O petista afirmou que o desenvolvimento da tecnologia sem “diretrizes claras” traz “riscos e efeitos colaterais”.
Lula deu a declaração durante a abertura do Fórum Empresarial do Brics, que ocorre no Rio de Janeiro. O evento antecede o encontro de líderes do agrupamento internacional formado por 11 países.
O debate sobre regras compartilhadas em torno da inteligência artificial é um dos objetivos do mandato do Brasil na presidência do Brics.
Segundo Lula, sem regras, modelos gerados por grandes empresas de tecnologia “vão se impor”.
“A inteligência artificial traz possibilidades que há poucos anos sequer imaginávamos. Na ausência de diretrizes claras coletivamente acordadas, os modelos gerados com base apenas na experiência de grandes empresas de tecnologia vão se impor. Os riscos e efeitos colaterais da inteligência artificial demandam uma governança multilateral”, declarou.
No discurso aos empresários e representantes dos países do Brics, o presidente Lula voltou a defender o multilateralismo para superar desafios econômicos.
Segundo Lula, o Brics é um “polo aglutinador de economias prósperas e dinâmicas” e os países-membros têm muito a “aprender com a sinergia permanente”.
O petista avaliou, ainda, que os países do grupo podem um “novo modelo de desenvolvimento”, pautado em ações de agricultura sustentável, indústria verde, infraestrutura resiliente e bioeconomia.
“Diante do ressurgimento do protecionismo, cabe às nações emergentes defender o regime multilateral de comércio e reformar a arquitetura financeira internacional. O Brics segue como fiador de um futuro promissor”, disse.
Além do encontro com empresários, Lula deve se reunir neste sábado com representantes da Etiópia, Vietnã, Nigéria e Abu Dhabi. Também está prevista reunião com o primeiro-ministro da China, Li Qiang.
Desenvolvimento versus guerras
O presidente Lula também defendeu que a paz e o desenvolvimento econômico e social estão atrelados. Na avaliação de Lula, sem paz não haverá “prosperidade”.
“O vínculo entre paz e desenvolvimento é evidente. Não haverá prosperidade em um mundo conflagrado. O fim das guerras e dos conflitos que se acumulam é uma das responsabilidades de chefes de Estado e de governo. É patente que o vácuo de liderança agrava as múltiplas crises enfrentadas na nossa sociedade”, afirmou.
Cúpula do Brics
Chefes de Estado e representantes de países-membros e parceiros do Brics vão se reunir, entre domingo (6) e segunda-feira (7), em uma cúpula na capital do Rio de Janeiro.
A reunião é considerada o ponto alto da presidência do Brasil no grupo, que será exercida ao longo de 2025.
Entre os líderes que confirmaram presença, estão o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.
A expectativa é que o encontro debata temas como combate à pobreza, financiamento climático, comércio e inteligência artificial. Uma das propostas é criar uma parceria para eliminar doenças ligadas à miséria e ampliar o acesso democrático a tecnologias.
Atualmente, o Brics conta com 11 países-membros e dez países-parceiros:
Membros: África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Índia, Irã e Rússia.
Parceiros: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.
O grupo se define como um foro de articulação político-diplomática. O objetivo do Brics é fomentar a cooperação econômica e política entre os membros.
Segundo apurou a TV Globo, três chefes de Estado de países-membros não devem participar da cúpula: Vladimir Putin (Rússia), Xi Jinping (China) e Abdel Fattah al-Sisi (Egito).
O evento terá segurança reforçada, com Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e restrição de voos. O embaixador Maurício Lyrio, do Itamaraty, coordena os trabalhos como sherpa brasileiro.