Aos 23 anos, irmã gêmea da brasileira com a maior nota de Harvard faz doutorado em medicina na mesma universidade: ‘Gostamos de estudar’

Sophia Borges, irmã de Sarah, desenvolve uma pesquisa sobre o programa de imunização do SUS. É um ‘doutorado-sanduíche’, cursado na Faculdade de Medicina da USP e em Harvard. Gêmea da brasileira com a maior nota de Harvard faz doutorado em medicina aos 23  
“Coitados dos primos” das irmãs gêmeas Sarah e Sophia Borges, de Goiânia. Aos 23 anos, as duas ostentam um histórico acadêmico impressionante:
Sarah, como já contado pelo g1, é recém-formada em Psicologia pela Universidade de Harvard. Ela foi a primeira brasileira a ganhar o Sophia Freund Prize, prêmio reservado a quem tira a nota final mais alta da turma e conclui o curso summa cum laude (nível máximo de honra acadêmica).
Sophia (sim, mesmo nome do prêmio) foi aprovada em Medicina em cinco universidades públicas, assim que terminou o ensino médio. Ela escolheu a Universidade de São Paulo (USP) e, desde 2024, faz doutorado-sanduíche [entenda abaixo]… em Harvard. Já publicou artigos científicos e desenvolve uma tese sobre possíveis melhorias no programa de vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS).
Sophia e Sarah, gêmeas de 23 anos, têm trajetória brilhante em Harvard
Arquivo pessoal
Na vida escolar, as duas sempre estudaram nas mesmas instituições de ensino, mas em salas separadas. “Não somos univitelinas, mas até meu pai duvida disso, porque todo mundo nos confunde”, brinca Sophia. “Se estivéssemos na mesma turma, seria uma confusão ainda maior.”
👩‍⚕️O que ela não esperava é que fosse entrar em Medicina na USP em 2020, no mesmo ano de sua gêmea. Sim, as duas foram aprovadas, “de primeira”, em um dos cursos mais concorridos do país.
Depois de um semestre juntas, elas seguiram caminhos diferentes: Sarah decidiu se inscrever em universidades do exterior e foi aprovada para a graduação em Psicologia na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Já Sophia optou por continuar na USP.
✈️ Mas a “separação geográfica” durou pouco — no fim de 2023, depois de já ter participado de atividades de iniciação científica, feito pesquisas no Hospital do Coração (com dados sobre o auge da pandemia) e publicado um artigo científico com seu orientador, Sophia inscreveu-se no doutorado-sanduíche de Harvard.
Como é possível fazer doutorado antes de se formar? O MD-PhD da Faculdade de Medicina da USP, oficialmente chamado de Programa Integrado de Formação em Pesquisa em Ciências da Saúde, é uma iniciativa que permite ao estudante de Medicina realizar, de forma integrada, a graduação e o doutorado. O objetivo é obter, de forma sucessiva, o diploma da faculdade e o título de doutor em uma área específica do conhecimento.
“Por volta do 4º ou do 5º ano da graduação, você pode aplicar para esse programa, se tiver experiência em pesquisa e publicações científicas publicadas. Aí, é só fazer o pré-projeto, apresentá-lo e passar por uma seleção”, conta Sophia.
“Encontrei um orientador de Harvard que estudava o mesmo tópico que eu queria [eficiência de programas de imunização públicos]. Entrei em contato com ele e consegui a oportunidade de ir para essa universidade, na Faculdade de Saúde Pública.”
➡️Por isso, o nome da modalidade é “doutorado-sanduíche”: a aluna começou o doutorado em São Paulo, está fazendo o “recheio” como aluna de Harvard desde 2024 e voltará para a USP no fim de 2025.
Só aí é que Sophia retomará a graduação de onde parou: na fase do internato, no 5º ano. Quando encerrar essa etapa, obterá o diploma de médica pela USP e já poderá, instantaneamente, defender a tese do doutorado-sanduíche de Harvard. Ou seja: ela terá o título de doutora por uma das universidades mais prestigiadas do mundo… aos 25 anos de idade, aproximadamente.
“Não conheço ninguém que tenha conseguido, nesse programa da FMUSP, ficar dois anos em Harvard. Está sendo incrível. Mas não foi uma decisão fácil: eu poderia me formar logo em medicina ou parar para fazer essa pesquisa no exterior, sem auxílio financeiro”, conta.
Sophia optou pela segunda alternativa: juntou dinheiro dando aula em cursinhos de Medicina e em colégios onde havia estudado, e participou de mentorias remuneradas no início da faculdade.
💰Dificuldades financeiras em Harvard
Sophia e Sarah afirmam que sempre gostaram de estudar
Arquivo pessoal
Ainda assim, ela não sabe se conseguirá se manter em Boston até dezembro. Por mais que não pague nada pelas disciplinas que cursa, gasta cerca de R$ 14 mil por mês com os altos custos de moradia, de alimentação e de transporte.
Não existe uma modalidade de bolsa de estudo de Harvard em que a aluna possa se inscrever (nem há perspectiva de mudança, diante da atual postura do presidente Donald Trump de oposição a alunos estrangeiros). Ela conta com a ajuda da família e com um apoio de cerca de R$ 4,6 mil da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
“Como não é um doutorado com a lógica tradicional, não existem muitas opções de financiamento. Não dá para participar do CNPq, por exemplo [órgão brasileiro que oferece bolsas na pós-graduação]”, diz.
Para garantir que terminará sua pesquisa em Harvard, Sophia montou uma vaquinha on-line que continua ativa. “A quantia que consegui até o final do ano passado já ajudou, mas não é suficiente para eu ficar o ano todo de 2025 aqui”, diz.
Sobre o que Sophia estuda?
Sophia apresenta pesquisa sobre vacinação no SUS
Arquivo pessoal
A pesquisa de doutorado de Sophia investiga como propiciar equidade na tomada de decisão dentro do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do SUS.
O objetivo geral é aprimorar o processo de avaliação para a incorporação de novas vacinas, levando em conta as regiões geográficas mais afetadas por determinada doença e os custos da tecnologia.
Seu projeto é focado na vacina do vírus sincicial respiratório (VSR) para gestantes. Ele é a principal causa de morte e hospitalização de recém-nascidos.
Sophia quer mostrar como incorporar a distribuição regional na tomada de decisão, já que a doença afeta algumas regiões de forma mais acentuada, e como tornar o programa mais eficiente.
O estudo envolve um modelo matemático, que poderá ser aplicado a outras áreas do SUS.
“Fico feliz em ver que a parceria que estou desenvolvendo em Harvard vai ser muito frutífera para a USP e para o Brasil. Meu orientador já demonstrou interesse em colaborar com projetos do nosso país e vai a São Paulo em setembro”, diz. “Espero que a gente consiga trazer mais alunos para continuar esse projeto em Harvard.”
🧠Qual é o segredo da família?
Sarah e Sophia garantem que nunca foram cobradas em excesso pelo pais.
“Eles fizeram de tudo para que a gente estudasse nas melhores escolas, mesmo sem condição financeira. O apoio que nos deram no dia a dia foi sempre o que me deu força para querer mais e mais”, diz Sophia. “Fico feliz de proporcionarmos essas pequenas felicidades para eles.”
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