A investigação sobre os lares católicos para mães começou na década de 2010, após o surgimento de indícios da existência de uma sepultura coletiva em Tuam. Agora, começou a escavação no local com especialistas forenses. Memorial na cova coletiva de Tuam, na Irlanda.
Clodagh Kilcoyne/Reuters
Uma equipe de arqueólogos forenses do mundo todo faz parte de uma operação para tentar identificar os restos mortais de cerca de 800 bebês encontrados em um lar para mães solteiras administrado pela Igreja Católica.
A escavação no antigo Lar de Mães e Bebês da ordem de Bon Secours, em Tuam, no Condado de Galway, no oeste da Irlanda, começou na última segunda-feira (7). Entenda o caso.
A ação faz parte de um processo de reparação em um país predominantemente católico, com histórico de abusos cometidos em instituições administradas pela Igreja.
“É uma história e uma situação muito, muito difícil e angustiante. Temos que esperar para ver o que acontecerá agora como resultado da escavação”, disse o primeiro-ministro irlandês, Micheál Martin.
Daniel MacSweeney, responsável pela exumação dos restos mortais dos bebês em Tuam, afirmou que sobreviventes e familiares poderão acompanhar os trabalhos nas próximas semanas.
“Esta é uma escavação única e incrivelmente complexa”, afirmou ele em comunicado, acrescentando que o jardim memorial no local estará sob controle forense e fechado ao público.
MacSweeney disse ainda que o processo da escavação é muito complexo, devido ao fato de os restos estarem misturados, o que torna difícil separar meninos de meninas tão jovens.
Outros desafios são o estado do DNA dos restos mortais e a falta de documentação arquivada.
Especialistas forenses irão analisar e preservar os restos mortais recuperados. Os profissionais irlandeses contarão com a ajuda de profissionais de países como Colômbia, Espanha, Reino Unido, Canadá, Austrália e Estados Unidos.
Aqueles restos que forem identificados serão devolvidos às respectivas famílias, conforme seus desejos. Os que não puderem ser identificados serão sepultados com dignidade e respeito, segundo as autoridades irlandesas.
A previsão é que as escavações durem dois anos.
Local da escavação em Tuam, na Irlanda.
Clodagh Kilcoyne/Reuters
Entenda o caso
A investigação sobre os lares católicos para mães começou na década de 2010, após o surgimento de indícios da existência de uma cova coletiva em Tuam.
Em 2014, a historiadora Catherine Corless rastreou certidões de óbito de quase 800 crianças que morreram na casa entre as décadas de 1920 e 1960 — mas conseguiu localizar apenas um registro de sepultamento.
O lar, operado por uma ordem de freiras católicas e fechado em 1961, foi uma entre muitas instituições que abrigaram dezenas de milhares de órfãos e mulheres solteiras grávidas.
Muitas dessas mães foram forçadas a renunciar a seus filhos durante grande parte do século 20.
Mais tarde, investigadores encontraram uma vala comum contendo os restos mortais de bebês e crianças pequenas em uma antiga estrutura de esgoto subterrânea, no terreno da instituição.
Os recém-nascidos teriam sido enterrados de maneira secreta pelas freiras.
Uma análise de DNA revelou que as idades das vítimas variavam de 35 semanas de gestação a 3 anos.
Uma investigação de grande escala sobre os lares de mães e bebês concluiu, em 2021, que cerca de 9 mil crianças morreram em 18 dessas instituições.
Esses lares serviram por décadas para esconder jovens grávidas da sociedade, em um dos capítulos mais sombrios da história da Igreja Católica.
As principais causas de morte apontadas foram infecções respiratórias e gastroenterite — erroneamente conhecida como “gripe estomacal”.
As freiras que administravam o lar de Tuam ofereceram um “profundo pedido de desculpas” e reconheceram que falharam em “proteger a dignidade inerente” das mulheres e crianças ali abrigadas.
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