Como política anti-imigração impacta comércios em região com forte presença de brasileiros: ‘Tem semana que some todo mundo’
Anti-imigração nos EUA – Edição de 15/07/2025
A mineira Priscila Sousa tinha apenas 7 anos quando imigrou com os pais para os Estados Unidos. Hoje, aos 37, ela é cidadã americana e deputada estadual em Massachusetts, onde cumpre seu segundo mandato. Em entrevista ao Profissão Repórter, Priscila leva a reportagem para conhecer Framingham, cidade a 35 quilômetros de Boston, que abriga cerca de 8 mil brasileiros — uma das maiores comunidades do país na região.
Ao caminhar pelas ruas do centro de Framingham, é impossível não notar a forte presença brasileira: padarias, mercados, salões de beleza e lojas com nomes em português. Mas, por trás das vitrines, o clima é de apreensão. Comerciantes relatam queda no movimento e medo crescente entre os imigrantes, reflexo direto das políticas anti-imigração que voltaram a ganhar força nos Estados Unidos.
“A clientela de muitos desses comércios é brasileira. O povo está com medo de sair de casa. O comércio caiu, está difícil. Tem sido uma luta para os donos de empresas”, conta Priscila.
A brasileira Priscila Sousa tinha apenas 7 anos quando imigrou com os pais para os Estados Unidos. Hoje, aos 37, é cidadã americana e deputada estadual em Massachusetts
TV Globo/Reprodução
Em uma das lojas visitadas pela reportagem, a queda nas vendas chega a 40%.
“Tem semana que some todo mundo. Muitos não estão trabalhando, estão guardando dinheiro, com medo”, diz um comerciante.
Framingham, cidade a 35 quilômetros de Boston, no estado de Massachusetts, abriga cerca de 8 mil brasileiros
Montagem/g1
Outro relata dias inteiros sem clientes:
“Parecia que o centro estava abandonado.”
Além do impacto econômico, os efeitos emocionais também são visíveis.
“Muitos clientes aqui na loja relatam ansiedade, depressão. A gente percebe uma grande aflição”, afirma uma empresária local.
Durante a visita, Priscila relembra sua própria história. Ela mostra o prédio onde morou com a família, ainda quando era indocumentada. Em frente ao local, uma abordagem policial recente envolvendo um brasileiro foi registrada em vídeo.
“Aquilo partiu meu coração. Me coloquei no lugar daquela pessoa. Quando morávamos aqui, também éramos indocumentados. Foi difícil olhar para a situação como deputada e não como imigrante”, desabafa.
Desde 2022, Priscila defende os direitos dos imigrantes na Câmara dos Deputados de Massachusetts. Em abril de 2025, ela discursou contra as políticas do ex-presidente Donald Trump, que voltou a adotar medidas mais rígidas contra imigrantes.
Novas leis anti-imigração em Portugal afetam amplamente os brasileiros
Reprodução
“Existe essa narrativa de que é uma questão de segurança pública. Mas quando pegam pessoas sem antecedentes criminais, que pagam impostos, que estão com os documentos em dia, isso não é segurança pública. O povo está sendo caçado”, afirmou em plenário.
Para Priscila, sua trajetória como imigrante é o que dá sentido ao seu trabalho na política.
“Ser imigrante é um espaço que eu posso ocupar com propriedade. As regras parlamentares eu posso aprender, mas ninguém vai me ensinar a ser imigrante.”
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