Depois de El Salvador e Sudão, chegou a vez de Eswastini, a única monarquia absoluta da África, receber estrangeiros deportados dos EUA pelo governo Trump. A prática de mandar prisioneiros para um terceiro país, sem qualquer vínculo com o imigrante, se intensifica com a campanha de deportação em massa do presidente americano.
Com 1 milhão de habitantes, o pequeno país localizado no Sul do continente e anteriormente conhecido como Suazilândia, acolhe cinco rejeitados pelos EUA, nascidos em Cuba, Jamaica, Laos, Iêmen e Vietnã. Eles foram descritos como “monstros depravados” pela porta-voz do Departamento de Segurança Interna dos EUA,Tricia McLaughlin, condenados por crimes como assassinato, estupro e assalto.
“Este voo levou indivíduos de forma tão singularmente bárbara que seus países de origem se recusaram a aceitá-los de volta”, escreveu ela na rede X. Sob o alerta de entidades de direitos humanos, os cinco foram enviados diretamente para as prisões de Eswastini, governado há quase quatro décadas pelo rei Mswati III.
O governo americano enfrenta a contestação de grupos de direitos humanos, mas está respaldado por uma decisão da Suprema Corte, em junho, dando aval para a deportação de imigrantes para outros países sem aviso prévio.
No início do mês, oito imigrantes da Ásia e da América Latina haviam sido enviados ao Sudão do Sul, gerando uma batalha judicial, praticamente encerrada na mais alta corte americana.
Apontado como “terceiro país seguro” pelos EUA, Eswastini confirma o paradoxo do governo Trump ao deportar para lá os imigrantes indesejados: o último relatório do Departamento de Estado sobre direitos humanos descreve assassinatos arbitrários ilegais, execuções extrajudiciais, tortura e tratamento desumano como práticas corriqueiras na nação africana.
A Anistia Internacional também relata maus tratos e tortura a presos e repressão política generalizada, grave crise econômica, alto desemprego e insegurança alimentar no país.
Em seu relatório anual, a entidade cita o assassinato da advogada de direitos humanos Thulani Maseko, não investigado pelo governo, e a perseguição sistemática a jornalistas e críticos do governo. Mlusngisi Makhanya, líder do Pudemo, o principal partido de oposição de Eswastini, foi internado em estado grave, em setembro passado, após uma tentativa de envenenamento em sua casa, em Pretória, na África do Sul, onde vive exilado.
Casado com 15 mulheres, pai de 45 filhos e criticado por hábitos extravagantes e luxuosos, o rei Mswati III nomeia o gabinete, o primeiro-ministro e os juízes. É ele também quem aprova leis, desde que assumiu o trono, em 1986, e comanda as forças de segurança do país onde os partidos políticos são proibidos.
Desta forma, sem surpresa alguma, o reino não informou a contrapartida oferecida pelos EUA para sua decisão de acolher imigrantes que foram descartados como impróprios para viver em território americano. Uma declaração do porta-voz interino do governo informou apenas que a deportação é resultado de meses de “fortes compromissos de alto nível” entre os EUA e Eswatini.

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