Por que Trump quer mudar nomes de times da NFL e de beisebol
Produtos com a marca ‘Redskins’ em julho de 2020
REUTERS/Leah Millis
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, intensificou nos últimos dias ameaças contra equipes esportivas que mudaram de nome por conta de termos considerados racistas. A escalada contempla uma política “anti-woke” e avessa a revisionismos adotada pelo republicano.
Trump ameaçou interferir na construção de um novo estádio de futebol americano do Washington Commanders, da NFL, em Washington, D.C., caso o time não volte a se chamar “Redskins”. O presidente também criticou o Cleveland Guardians, da liga de beisebol, por tirar o “Indians” do nome.
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As mudanças ocorreram nos últimos anos —o “Redskins” foi abandonado em 2020, e o “Indians”, em 2021— após décadas de críticas por serem considerados uma ofensa racial a povos indígenas. Grupos de defesa dos direitos das comunidades nativas americanas lutaram pela retirada dos elementos da cultura indígena no esporte por serem utilizados de forma estereotipada e ofensiva, como mascotes.
No passado, Trump já havia defendido publicamente o retorno do nome Redskins. No entanto, a fala mais recente do presidente americano subiu o tom por indicar que poderia tomar medidas concretas em retaliação. Trump disse que o dono dos Guardians, Matt Dolan, “perdeu eleições seguidas” —primárias republicanas para o Senado pelo estado de Ohio em 2022 e 2024— por conta da mudança do nome.
“Posso impor a eles uma restrição de que, se não mudarem o nome de volta para o original ‘Washington Redskins’ e se livrarem do ridículo apelido ‘Washington Commanders’, não farei um acordo para que construam um estádio em Washington”, escreveu Trump na plataforma Truth Social no domingo.
Trump afirma que as mudanças nos nomes iria contra a vontade dos povos indígenas, e que “sua herança e prestígio estão sendo retirados”, alegação rejeitada pela maioria das organizações indígenas dos EUA. A maioria dos nativo-americanos do país se opõe a mascotes ou termos indígenas no esporte, segundo estudo da Universidade de Michigan de 2020 com mais de mil entrevistados.
A fala de Trump segue sua agenda “anti-woke”, termo utilizado para se referir a políticas progressistas e depreciadas por conservadores, e alimenta sua base trumpista. Racismo estrutural, revisionismo histórico ou políticas de diversidade e inclusão são vistos dessa maneira e considerados um “ataque aos EUA tradicionais”.
O tratamento dado à população indígena após a chegada dos colonizadores europeus aos Estados Unidos segue em debate. Parte dos historiadores classifica o episódio como genocídio. Outros usam o termo “limpeza étnica”.
Para além do esporte, Trump já combateu políticas inclusivas ou reparatórias em outros âmbitos. No início de seu mandato, ele assinou uma ordem executiva para cortar fundos de escolas que abordam racismo e teoria de gênero. Trump também terminou com políticas de diversidade e inclusão em agências do governo, e pressiona empresas para fazer o mesmo.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou na segunda-feira que Trump gosta de esportes e “não é um presidente tradicional”, gosta de se envolver em vários assuntos que outros presidentes americanos não abordam.
Leavitt afirmou que Trump não está brincando sobre suas ameaças aos Commanders e aos Guardians, porém não deu mais detalhes. Trump tem pouca margem legal para intervir diretamente na construção do estádio dos Commanders, porque o governo não tem jurisdição sobre o distrito de Washington, D.C.
O presidente do Cleveland Guardians, Chris Antonetti, disse ao jornal esportivo americano “The Athletic” que o clube está focado no futuro, e rejeitou uma volta ao antigo nome. Já o Washington Commanders não se pronunciou oficialmente sobre as ameaças de Trump até a última atualização desta reportagem, mas o time já disse em outras ocasiões não ter planos para reverter ao “Redskins”.
Além da agenda “anti-woke”, a escalada contra as equipes esportivas ocorre simultaneamente à polêmica de Epstein, que aumentou após um documento divulgado pelo Departamento de Justiça não conter novos detalhes sobre o caso. Trump recebeu críticas nos últimos dias por desconversar quando perguntado sobre uma “lista de clientes de Epstein”, que ele prometeu que publicaria.
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