Caminhões de comida entram em Gaza em pausa humanitária
Caminhões carregando ajuda humanitária entram na Faixa de Gaza a partir do Egito pela passagem de Rafah, no sul do território palestino, em 28 de julho de 2025.
REUTERS/Stringer
Dezenas de caminhões carregando ajuda humanitária entraram na Faixa de Gaza nesta segunda-feira (28), após Israel ter estabelecido uma pausa humanitária na guerra com corredores humanitários em uma tentativa de aliviar a situação de “fome em massa” sofrida pelos palestinos.
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Os caminhões carregando alimento aos palestinos entraram em Gaza pelo segundo dia consecutivo nesta segunda-feira a partir do Egito, pelo sul, na passagem de Rafah.
Israel anunciou no sábado uma pausa humanitária no conflito que trava com o grupo terrorista Hamas para permitir a distribuição de alimentos por terra, após ter sido criticada por apenas liberar lançamentos aéreos de ajuda, considerados ineficazes. Foram criados corredores de ajuda humanitária em regiões no sul de Gaza, onde imagens de palestinos famintos intensificaram as críticas internacionais ao governo israelense.
Segundo o Exército israelense, a atividade militar em Gaza será suspensa diariamente das 10h às 20h no horário local (4h às 14h em Brasília), até novo aviso, em Al-Mawasi, no sul, em Deir al-Balah, centro, e na Cidade de Gaza, ao norte.
O Exército também informou que rotas seguras específicas para comboios que entregam alimentos e remédios estarão ativas das 6h às 23h, a partir de domingo (27 de julho).
O Crescente Vermelho Egípcio disse nesta segunda-feira que está enviando 135 caminhões com cerca de 1.500 toneladas de ajuda para Gaza, incluindo diversos alimentos e itens de higiene pessoal.
Caminhões com sinais do Crescente Vermelho dos Emirados, da Qatar Charity e de outras organizações internacionais também foram vistos se deslocando do Egito em direção a Gaza.
Israel tem enfrentado críticas crescentes da comunidade internacional — que o governo rejeita — devido à crise humanitária em Gaza. As negociações indiretas por um cessar-fogo, mediadas em Doha entre Israel e o grupo militante palestino Hamas, foram interrompidas sem acordo à vista.
Israel cortou a entrada de ajuda em Gaza a partir de março como forma de pressionar o Hamas a libertar dezenas de reféns que ainda mantém em cativeiro, e reabriu a distribuição de ajuda com novas restrições em maio.
O governo israelense afirma que tem permitido a entrada de ajuda, mas que precisa evitar que ela seja desviada por militantes, culpando o Hamas pelo sofrimento da população de Gaza.
A guerra começou em 7 de outubro de 2023, quando combatentes liderados pelo Hamas invadiram o sul de Israel, matando 1.200 pessoas — a maioria civis — e levando 251 reféns para Gaza, segundo dados israelenses.
Desde então, a ofensiva israelense matou quase 60.000 pessoas em Gaza — em sua maioria civis —, de acordo com autoridades de saúde locais, reduziu grande parte do enclave a escombros e deslocou quase toda a população.
Pausa humanitária
Israel iniciou uma pausa humanitária em corredores e pontos de distribuição de comida de Gaza neste domingo (27).
O anúncio, feito pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel neste sábado (26), foi confirmado em comunicado pelo Exército israelense no começo do dia:
“Para aumentar a escala de ajuda humanitária que entra na Faixa de Gaza, uma pausa tática local na atividade militar ocorrerá para fins humanitários das 10h às 20h, a partir de hoje. (…) A pausa começará nas áreas onde as IDF não estão operando: Al-Mawasi, Deir al-Balah e Cidade de Gaza, todos os dias até novo aviso”.
Palestinos carregam suprimentos de ajuda que entraram em Gaza através de Israel, em Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza, em 27 de julho de 2025.
Dawoud Abu Alkas/Reuters
As Forças de Defesa israelenses também informaram no aviso pelo Telegram que rotas seguras para comboios com alimentos e medicamentos estarão disponíveis das 6h às 23h a partir deste domingo.
“Rotas designadas estarão em funcionamento para permitir a passagem segura de comboios da ONU e de organizações de ajuda humanitária que entregam e distribuem alimentos e medicamentos à população em toda a Faixa de Gaza. As IDF continuarão a apoiar os esforços humanitários, juntamente com as manobras e operações ofensivas em andamento contra organizações terroristas na Faixa de Gaza”, detalha o comunicado.
As medidas vêm em meio à pressão internacional em razão da crise humanitária vivida pelos moradores do enclave, controlado pelo grupo terrorista Hamas (leia mais abaixo).
Israel divulga imagens de lançamento aéreo de ajuda humanitária em Gaza
O chefe humanitário da ONU, Tom Fletcher, disse que as equipes intensificarão os esforços para alimentar os famintos durante as pausas nas áreas designadas. “Nossas equipes no terreno farão tudo o que puderem para alcançar o maior número possível de pessoas famintas nesse intervalo”, disse ele em uma postagem na rede X.
Israel também retomou o envio de alimentos para Gaza por meio de aviões e, na noite deste sábado (26), divulgou um vídeo do primeiro lançamento.
Desde maio, esse apoio está concentrado na Fundação Humanitária de Gaza, entidade controversa apoiada por Israel e criticada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Palestinos carregam suprimentos de ajuda que entraram em Gaza por meio de Israel, em Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza, neste domingo (27)
Ebrahim Hajjaj/Reuters
ONU afirma que situação em Gaza é ‘show de horrores’
A volta da permissão da ajuda aérea ocorre em um momento de agravamento da crise humanitária em Gaza. Dezenas de moradores do enclave morreram de desnutrição nas últimas semanas, segundo o Ministério da Saúde do território, controlado pelo Hamas. Desde o início da guerra, 127 pessoas morreram por desnutrição, incluindo 85 crianças, informou o ministério.
No sábado, uma bebê de cinco meses, Zainab Abu Haleeb, morreu de desnutrição aguda grave no Hospital Nasser, em Khan Younis, segundo profissionais de saúde.
O Crescente Vermelho Egípcio informou que enviaria neste domingo mais de 100 caminhões com mais de 1.200 toneladas de ajuda alimentar para o sul de Gaza, via passagem de Kerem Shalom.
Caminhões carregando ajuda humanitária entram pela passagem de Rafah, entre o Egito e a Faixa de Gaza, no domingo (27)
Mohamed Arafat/AP
A ONU descreve a atual situação como um “show de horrores”. Mais de 100 ONGs especializadas denunciam “fome em massa” no território.
“‘As pessoas em Gaza não estão nem mortas nem vivas, são cadáveres ambulantes’: disse-me um colega em Gaza nesta manhã”, disse Philippe Lazzarini, comissário-geral da UNRWA, na quinta-feira (24).
Um vídeo divulgado pela agência Reuters na quinta-feira mostrou crianças palestinas atendidas com desnutrição severa em um hospital de Khan Younis, em Gaza. O World Food Program (WFP), braço das Nações Unidas dedicado à alimentação, disse nesta sexta-feira (25) que quase um terço da população palestina “não come durante dias seguidos”.
O governo Netanyahu culpa a ONU e o grupo terrorista Hamas por impedir que os alimentos cheguem à população palestina.
A operação militar de Israel em Gaza matou mais de 59 mil palestinos, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. O ataque terrorista feito pelo grupo a Israel em 2023 deixou 1,2 mil mortos – a maioria também de civis –, e 250 pessoas foram feitas reféns.
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