Trump diz que EUA vão criar ‘centros de alimentação’ em Gaza: ‘Há fome de verdade’
Trump reitera ‘decepção’ com Putin e diz que irá reduzir prazo dado à Rússia para endurecer sanções em 28 de julho de 2025.
REUTERS/Evelyn Hockstein
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda-feira (28) que criará “centros de alimentação” na Faixa de Gaza, e que “existe fome de verdade” no território palestino.
✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp
“Vamos trabalhar próximos juntos para criar centros de alimentação em Gaza, onde as pessoas possam entrar [e comer], sem barreiras ou cercas. Hoje em dia elas veem a comida a uma distância, e há cercas e nem conseguem chegar a ela. Está uma loucura por lá”, afirmou Trump em encontro com o premiê britânico, Keir Starmer.
Trump não deu mais detalhes sobre a implementação dos “centros de alimentação” nem quem se juntaria aos EUA na empreitada, mas mencionou que o Reino Unido os ajudarão, sem deixar claro se em relação a esses centros ou de forma mais abrangente no combate à fome em Gaza. “As coisas em Gaza precisam ser feitas de uma forma um pouco diferente”, disse Trump.
“Precisamos cuidar das necessidades humanitárias do que um dia se chamou de Faixa de Gaza (…) Podemos salvar muita gente. Algumas dessas crianças… é uma fome real, eu vejo isso, não dá para fabricar. Vamos nos envolver ainda mais. O primeiro-ministro [Starmer] vai nos ajudar”, afirmou o presidente americano.
A fala marca um ponto de virada na posição oficial dos EUA em relação ao modo como Israel, seu maior aliado no Oriente Médio, tem lidado com a crise humanitária em Gaza. Também representa um descompasso na visão sobre os palestinos, já que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reafirmou nesta segunda-feira que “não há fome ou política de fome em Gaza”.
Starmer afirmou que as imagens de crianças palestinas passando fome são “revoltantes”. “Precisamos incentivar outros países a pedirem um cessar-fogo em Gaza.”
Entrada de ajuda em Gaza
Caminhões carregando comida para palestinos entram em Gaza em pausa humanitária na guerra
Dezenas de caminhões carregando ajuda humanitária entraram na Faixa de Gaza nesta segunda (28), após Israel ter estabelecido uma pausa humanitária na guerra com corredores humanitários em uma tentativa de aliviar a situação de “fome em massa” sofrida pelos palestinos.
Os caminhões carregando alimento aos palestinos entraram em Gaza pelo segundo dia consecutivo nesta segunda-feira a partir do Egito, pelo sul, na passagem de Rafah. Caminhões com sinais da Cruz Vermelha e de outras organizações internacionais foram vistos se deslocando do Egito em direção a Gaza.
“Mais de 120 caminhões foram recolhidos e distribuídos ontem pela ONU e por organizações internacionais. (…) Outros 180 caminhões entraram em Gaza e agora aguardam recolhimento e distribuição, junto com centenas de outros que ainda estão na fila para serem recolhidos pela ONU”, disse a Cogat, órgão do Ministério da Defesa de Israel responsável por assuntos civis nos territórios palestinos.
Israel anunciou no sábado uma pausa humanitária no conflito que trava com o grupo terrorista Hamas para permitir a distribuição de alimentos por terra após ter sido criticada por apenas liberar lançamentos aéreos de ajuda, considerados ineficazes. Foram criados corredores de ajuda humanitária em regiões no sul de Gaza, onde imagens de palestinos famintos intensificaram as críticas internacionais ao governo israelense. (Leia mais abaixo)
Segundo o Exército israelense, a atividade militar em Gaza será suspensa diariamente das 10h às 20h no horário local (4h às 14h em Brasília), até novo aviso, em Al-Mawasi, no sul, em Deir al-Balah, centro, e na Cidade de Gaza, ao norte. Rotas seguras para comboios que entregam alimentos e remédios estarão ativas durante o dia e fecharão durante a madrugada, segundo a pasta.
Caminhões carregando ajuda humanitária entram na Faixa de Gaza a partir do Egito pela passagem de Rafah, no sul do território palestino, em 28 de julho de 2025.
REUTERS/Stringer
Israel tem enfrentado críticas crescentes da comunidade internacional devido à crise humanitária em Gaza, que chegou a um nível de “fome em massa”, segundo a ONU e ONGs especializadas —o governo Netanyahu rebate críticas e o premiê israelense disse nesta segunda que “não há fome ou política de fome em Gaza”. As negociações indiretas por um cessar-fogo, mediadas em Doha entre Israel e o grupo militante palestino Hamas, foram interrompidas e não há previsão de um novo acordo.
A situação em Gaza se tornou “um show de horrores”, como descrito pelo secretário-geral da ONU, após Israel ter bloqueado totalmente a entrada de ajuda em Gaza entre março e maio para pressionar o Hamas a libertar os reféns que ainda mantém em cativeiro, e depois tomar controle da distribuição de comida no território —em que é acusada de ajuda a “a conta-gotas” e de matar palestinos que buscam ajuda.
Israel diz que restringiu a distribuição de ajuda humanitária para evitar que caia nas mãos do Hamas, e culpa a ONU pela recente ineficiência na distribuição de alimentos aos palestinos —no entanto, o Exército israelense proibiu a operação da ONU e de ONGs em Gaza. No domingo, Netanyahu reiterou que continuará guerra até “vitória total” sobre o grupo terrorista.
A guerra começou em 7 de outubro de 2023, quando um ataque terrorista do Hamas no sul de Israel matou mais de 1.200 israelenses e 251 foram levados reféns para Gaza. Desde então, a ofensiva israelense em Gaza matou quase 60 mil palestinos —em sua maioria mulheres e crianças, segundo dados de autoridades de saúde locais chancelados pela ONU— e reduziu grande parte do enclave a escombros e deslocou quase toda a população.
Pausa humanitária
Palestinos carregam suprimentos de ajuda que entraram em Gaza através de Israel, em Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza, em 27 de julho de 2025.
Dawoud Abu Alkas/Reuters
Israel iniciou uma pausa humanitária em corredores e pontos de distribuição de comida de Gaza neste domingo (27).
O anúncio, feito pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel neste sábado (26), foi confirmado em comunicado pelo Exército israelense no começo do dia:
“Para aumentar a escala de ajuda humanitária que entra na Faixa de Gaza, uma pausa tática local na atividade militar ocorrerá para fins humanitários das 10h às 20h, a partir de hoje. (…) Rotas designadas estarão em funcionamento para permitir a passagem segura de comboios da ONU e de organizações de ajuda humanitária que entregam e distribuem alimentos e medicamentos à população em toda a Faixa de Gaza”, afirmou o Exército israelense em comunicado.
As Forças de Defesa israelenses também informaram no aviso pelo Telegram que rotas seguras para comboios com alimentos e medicamentos estarão disponíveis das 6h às 23h a partir deste domingo.
Israel divulga imagens de lançamento aéreo de ajuda humanitária em Gaza
As medidas vêm em meio à pressão internacional em razão da crise humanitária vivida pelos moradores do enclave, controlado pelo grupo terrorista Hamas (leia mais abaixo).
O chefe humanitário da ONU, Tom Fletcher, disse que as equipes intensificarão os esforços para alimentar os famintos durante as pausas nas áreas designadas. “Nossas equipes no terreno farão tudo o que puderem para alcançar o maior número possível de pessoas famintas nesse intervalo”, disse ele em uma postagem na rede X.
Israel também retomou o envio de alimentos para Gaza por meio de aviões e, na noite deste sábado (26), divulgou um vídeo do primeiro lançamento.
Desde maio, esse apoio está concentrado na Fundação Humanitária de Gaza, entidade controversa apoiada por Israel e criticada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
ONU diz que situação em Gaza é ‘show de horrores’
Vídeo mostra crianças vítimas da fome em Gaza; Israel e ONU trocam acusações
A volta da permissão da ajuda aérea ocorre em um momento de agravamento da crise humanitária em Gaza. Dezenas de moradores do enclave morreram de desnutrição nas últimas semanas, segundo o Ministério da Saúde do território, controlado pelo Hamas. Desde o início da guerra, 127 pessoas morreram por desnutrição, incluindo 85 crianças, informou o ministério.
No sábado, uma bebê de cinco meses, Zainab Abu Haleeb, morreu de desnutrição aguda grave no Hospital Nasser, em Khan Younis, segundo profissionais de saúde.
O Crescente Vermelho Egípcio informou que enviaria neste domingo mais de 100 caminhões com mais de 1.200 toneladas de ajuda alimentar para o sul de Gaza, via passagem de Kerem Shalom.
A ONU descreve a atual situação como um “show de horrores”. Mais de 100 ONGs especializadas denunciam “fome em massa” no território.
“‘As pessoas em Gaza não estão nem mortas nem vivas, são cadáveres ambulantes’: disse-me um colega em Gaza nesta manhã”, disse Philippe Lazzarini, comissário-geral da UNRWA, na quinta-feira (24).
Um vídeo divulgado pela agência Reuters na quinta-feira mostrou crianças palestinas atendidas com desnutrição severa em um hospital de Khan Younis, em Gaza. O World Food Program (WFP), braço das Nações Unidas dedicado à alimentação, disse nesta sexta-feira (25) que quase um terço da população palestina “não come durante dias seguidos”.
O governo Netanyahu culpa a ONU e o grupo terrorista Hamas por impedir que os alimentos cheguem à população palestina.
Caminhões carregando ajuda humanitária entram na Faixa de Gaza a partir do Egito pela passagem de Rafah, no sul do território palestino, em 28 de julho de 2025.
Reuters