Trump comemora início do tarifaço após fazer novas ameaças
O tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre importações de dezenas de países entrou em vigor nesta quinta-feira (7). As taxas mais altas elevaram o imposto médio de importação dos EUA para o nível mais alto em um século. (Entenda mais abaixo)
O Brasil foi o primeiro a sofrer com as sobretaxas, com o tarifaço sobre produtos brasileiros tendo iniciado já na quarta-feira (6). O país, assim como outros parceiros comerciais dos EUA — como Suíça e Índia, por exemplo — ainda tentam negociar acordos melhores com o governo norte-americano.
As novas taxas cobradas pela agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA variam de 10% a 50% e começam a ser cobradas após semanas de suspense sobre quais seriam as tarifas finais cobradas por Trump de seus parceiros comerciais e em meio a negociações frenéticas com países que buscam reduzi-las.
Os líderes do Brasil e da Índia prometeram não se intimidar com a posição de barganha dura de Trump, mesmo enquanto seus negociadores buscavam um adiamento dos níveis mais altos de tarifas.
As novas taxas testarão a estratégia de Trump para reduzir os déficits comerciais dos EUA sem causar grandes interrupções nas cadeias de suprimentos globais ou provocar maior inflação e duras retaliações dos parceiros comerciais.
Após revelar suas tarifas do “Dia da Libertação” em abril, Trump modificou seus planos com frequência, aplicando taxas muito mais altas às importações de alguns países, incluindo 50% para produtos do Brasil, 39% da Suíça, 35% do Canadá e 25% da Índia.
Na véspera, ele anunciou uma tarifa separada de 25% sobre produtos indianos, a ser imposta em 21 dias, sobre as compras de petróleo russo pela Índia.
“Tarifas estão chegando aos EUA em níveis jamais imaginados!”, afirmou Trump em seu perfil no Truth Social nesta quinta-feira (7).
As tarifas são, em última análise, pagas pelas empresas que importam os produtos e repassadas, total ou parcialmente, aos consumidores dos produtos finais.
Oito grandes parceiros comerciais, responsáveis por cerca de 40% dos fluxos comerciais dos EUA, fecharam acordos-quadro para concessões comerciais e de investimento a Trump, incluindo a União Europeia, o Japão e a Coreia do Sul, reduzindo suas tarifas básicas para 15%.
A Grã-Bretanha obteve uma taxa de 10%, enquanto Vietnã, Indonésia, Paquistão e Filipinas garantiram reduções de taxas para 19% ou 20%.
“Haverá uma reorganização na cadeia de suprimentos. Haverá um novo equilíbrio. Os preços aqui vão subir, mas levará um tempo para que isso se manifeste de forma significativa”, disse William Reinsch, pesquisador sênior e especialista em comércio do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington.
FOTO DE ARQUIVO: O presidente dos EUA, Donald Trump, gesticula após assinar lei conhecida como “One Big Beautiful Bill Act”, na Casa Branca, em Washington, D.C., EUA, em 4 de julho de 2025.
Reuters/Leah Millis/Foto de arquivo
Países com taxas extremamente altas, como Índia e Canadá, “continuarão se esforçando para tentar consertar isso”, acrescentou.
O governo da Suíça realizará uma reunião de emergência nesta quinta-feira para decidir seu próximo passo depois que a presidente Karin Keller-Sutter voltou para casa de mãos vazias de uma viagem de última hora a Washington com o objetivo de evitar a tarifa de importação dos EUA sobre produtos suíços.
Uma tentativa de última hora da África do Sul de melhorar sua oferta em troca de uma tarifa mais baixa também fracassou. O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, conversou por telefone com Trump na quarta-feira e as equipes de negociação comercial dos dois países terão mais conversas, informou o gabinete de Ramaphosa.
O Vietnã disse que continuará as negociações com os EUA para tentar reduzir ainda mais as tarifas após negociar uma redução de 46% para 20% que Trump aplicou ao país do Sudeste Asiático em abril.
Enquanto isso, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, disse à Reuters na quarta-feira que não se humilharia ao tentar um telefonema com Trump, mesmo tendo dito que seu governo continuaria as negociações em nível de gabinete para reduzir a tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras para os EUA.
Além disso, na véspera, o governo brasileiro também acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC) contra o tarifaço.
O primeiro-ministro indiano Narendra Modi foi igualmente desafiador, dizendo que não comprometeria os interesses dos agricultores do país depois que Trump introduziu uma tarifa de 50% sobre produtos indianos.
Também houve sinais de que alguns países estavam se unindo para enfrentar Trump. Lula, do Brasil, convocaria os líderes da Índia e da China para discutir uma resposta conjunta dos BRICS às tarifas.
A Índia disse na quarta-feira que Modi visitará a China pela primeira vez em sete anos, à medida que as tensões com os EUA aumentam.
Receitas e aumentos de preços
Os impostos de importação dos EUA são parte de uma estratégia tarifária multifacetada que inclui tarifas setoriais baseadas na segurança nacional sobre semicondutores, produtos farmacêuticos, automóveis, aço, alumínio, cobre, madeira e outros bens. Trump disse na quarta-feira (6) que as tarifas sobre microchips poderiam chegar a 100%.
A China está em uma faixa tarifária separada e enfrentará um potencial aumento tarifário em 12 de agosto, a menos que Trump aprove uma extensão de uma trégua anterior após as negociações da semana passada na Suécia. Ele afirmou que pode impor tarifas adicionais sobre as compras de petróleo russo pela China, na tentativa de pressionar Moscou a encerrar a guerra na Ucrânia.
Trump alardeou um enorme aumento nas receitas federais provenientes de suas arrecadações de impostos de importação, com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, dizendo que as receitas tarifárias podem ultrapassar US$ 300 bilhões por ano.
A medida elevará as tarifas médias dos EUA para cerca de 20%, a mais alta em um século e acima dos 2,5% de quando Trump assumiu o cargo em janeiro, estima o Atlantic Institute.
Dados do Departamento de Comércio divulgados na semana passada mostraram mais evidências de que as tarifas começaram a elevar os preços nos EUA em junho, inclusive para móveis e equipamentos domésticos duráveis, bens de lazer e veículos automotores.
Os custos da guerra tarifária de Trump estão aumentando para uma ampla gama de empresas, incluindo as líderes Caterpillar, Marriott, Molson Coors e Yum Brands.
A Toyota disse na quinta-feira que espera um impacto de quase US$ 10 bilhões em tarifas sobre carros importados para os EUA, ao cortar sua previsão de lucro anual em 16%.
Mas outras empresas japonesas, como Sony e Honda, disseram que agora esperam um impacto menor nos lucros depois que o Japão fechou um acordo bilateral com Washington para reduzir tarifas.

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